Darío Pignotti, enviado especial a Havana
“Gostaria de dizer ao papa, pessoalmente, o quanto eu estou agradecido pelo que ele fez por mim e pelos meus quatro companheiros”. Ramón Labañino Salazar é um dos cinco heróis cubanos condenados por um tribunal de Miami e liberados em dezembro de 2014, depois de 16 anos de prisão.
Salazar estava acompanhado por sua esposa, Elizabeth Palmeiro, quando concedeu esta entrevista exclusiva a Carta Maior, em uma antiga casona da Rua 17, que desemboca no Malecón, onde Francisco e seu papamóvel passaram na noite de segunda-feira (21/9), em sua despedida de Havana.
Depois dos cinco dias de visita ao país caribenho, Francisco voou rumo a Washington, e dali até Nova York, onde pronunciou um discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas, nesta sexta-feira (25/9), sendo aplaudido por um Raúl Castro que retornou aos Estados Unidos após de 56 anos de uma guerra fria recentemente concluída.
EIXO RAUL-FRANCISCO
– O fato de que Raúl receba o papa em Havana e depois viaje aos Estados Unidos para escutá-lo indica que as relações passaram a ser bastante amigáveis.
– É verdade, porque este é um papa diferente. Eu diria até que é um papa progressista, que fala bem dos nossos povos, que critica fortemente o capitalismo e as guerras. Ele é uma pessoa que observa claramente a situação internacional. É um amigo de Cuba. Ou seja, as coisas que ele faz e diz são realmente admiráveis, ainda mais vindas de um papa. Isso é algo que nunca havia acontecido e faz com que nos sintamos mais próximos a ele. Há muitos comentários sobre a participação dele no processo que levou à nossa liberdade, e tomara que algum dia eu possa conversar com ele sobre isso, eu gostaria muito de uma oportunidade dessas. Claro que ele, que é uma pessoa de modéstia infinita, não quis reconhecer essa ajuda, mas qualquer que tenha sido sua intervenção já é o suficiente para eu querer agradecer. Ele tem a nossa gratidão e a nossa admiração.
– Nesta viagem marcada por diversos sinais, o que a reunião entre Francisco e Fidel simboliza?
– Acho que estamos vivendo um momento histórico singular, a concretização de uma profecia. Há mais de 40 anos, perguntaram a Fidel quando terminaria o bloqueio a Cuba, e Fidel respondeu que seria quando o papa fosse latino e um presidente dos Estados Unidos fosse um negro. Fidel, com essa visão profética, visualizou a circunstância que vivemos hoje em Cuba. Se trata de um momento histórico singular, de futuro, de amor e de otimismo, porque demostra que os tempos estão sempre a favor da Revolução. Fidel sempre esteve certo, porque ele não é só um líder para a Revolução Cubana, e sim para o mundo, e o papa também simboliza esses valores universais. Isto é, a unidade de dois homens que lutam em favor dos pobres. Este encontro demonstra que a Revolução está mais firme e mais solidária que nunca.
– É possível que aconteça um encontro entre Raúl Castro e Barack Obama em Nova York?
– Não é impossível, eu acho que é possível, e parece que vai acontecer, sou otimista. É minha opinião pessoal, não é uma informação. Mas se Raúl e Obama se encontram na ONU, se produziria um fato de muita força simbólica. Com isso, Obama terá maior dimensão de estadista, e para Raúl também será importante, porque demonstrará a firmeza da Revolução Cubana, e que Cuba ainda é a mesma. Claro que, para que essa reunião aconteça mesmo, vai depender de que possam se encontrar no mesmo lugar e na mesma hora, em Nova York.
OBAMA: CAPITALISMO PRAGMÁTICO
– Você foi condenado a mais de uma prisão perpétua. Quando Obama foi eleito, em 2008, você já estava preso há quanto tempo?
– Sim, minha pena era de mais de uma perpétua, e não sou o único dos cinco com uma pena tão grande, que foi dada em Miami, após um julgamento que parecia um circo romano, sem respeitar a lei. Em 2008, quando Obama ganhou a presidência nós, estávamos presos há dez anos, e desde que ele assumiu, houve uma mudança nas condições da nossa prisão.
– Melhoraram com Obama?
– Melhoraram radicalmente, foi uma mudança importante com relação ao que sofremos nos tempos de George W. Bush, quando nos proibiram as visitas de familiares por dois anos e meio. A partir de 2009, quando Obama tomou o poder, percebemos uma mudança. Em primeiro lugar, dando mais vistos aos nossos familiares, para poderem nos visitar. A atenção médica melhorou, eu já tinha problemas nos joelhos na época de Bush e não me atendiam, e com Obama eles vieram analisar a minha situação, fizeram raios X e me deram um cuidado diferente. Obama foi um sinal de esperança. Na cadeia, nós percebemos os tempos estavam mudando. O governo de Bush foi a época na qual mais membros da extrema direita cubano-americana ocuparam cargos no governo. Por exemplo, o senhor Otto Reich ocupou um lugar no Departamento de Estado, e também o senhor John Negroponte, outro que esteve em postos importantes. Tenho certeza que toda essa camada anti-cubana teve influência no aumento do nosso sofrimento na prisão.
– Você confia nos compromissos assumidos por Obama?
– Nós não acreditamos que o mundo vai mudar completamente graças ao Obama. Sabemos que ele pertence ao establishment norte-americano, que defende o capitalismo. Achamos que sua posição sobre Cuba é pragmática, ele entende que o confronto com Cuba fracassou, que as guerras, as ameaças, o bloqueio, o incentivo à subversão interna na ilha, nada disso deu certo. Hoje, Cuba está mais acompanhada que nunca internacionalmente e os Estados Unidos estão mais isolados do que nunca, isso se vê no tratamento que muitos líderes mundiais dão a Cuba. Por exemplo na visita da presidenta argentina Cristina Kirchner a Cuba, durante esta viagem do papa. Mas nós não dependemos somente do que o Obama faça, nós temos nossas virtudes, depois desses 56 anos de Revolução, da aprendizagem a respeito de como lidar com o imperialismo norte-americano, não somos tontos, não baixamos a guarda, sabemos, que apesar desta aproximação, eles continuam buscando se intrometer em nossos assuntos, mas agora são menos belicistas que antes. O império sempre vai querer dominar Cuba.
GUERRA IMPERIALISTA NÃO ACABOU
– Você acha que virão batalhas de outro tipo?
– Podem vir batalhas fortes, mas que vão se desenvolver num terreno diferente. No terreno dos investimentos estrangeiros, da compra de mentes, além da subversão interna, porque eles vão poder financiar com mais recursos os pequenos grupos de supostos dissidentes. Vão falar de uma suposta democracia, vão querer criar um segundo partido político, ou terceiro, tudo para dividir o nosso país. Ao abrir a embaixada (em agosto) o secretário de Estado (John Kerry) disse que pretende trazer a democracia, e nós lhe respondemos que Cuba já é um país democrático. Nós devemos tentar demostrar a qualquer pessoa que nossa democracia é muito mais real que a democracia dos Estados Unidos. Em Cuba não se gastam milhões em campanhas de publicidade durante eleições marcadas por promessas vazias. Em Cuba não há corrupção dentro dos partidos. Em Cuba, o melhor cidadão de cada quadra vai se elevando pouco a pouco e chega naturalmente a um nível político superior. Essa é a nossa democracia – que tem problemas, claro, mas muito mais fáceis de solucionar. O principal é que as pessoas estão no centro de tudo em Cuba.
“EU MORRO COMO VIVI”
Ramón Labañino Salazar nasceu em 1963, quando a Revolução tinha apenas quatro anos. Em 1965, nasceu Gerardo Hernández, o oficial de inteligência que comandou o grupo de agentes enviado a Flórida nos Anos 90 para impedir os ataques terroristas frequentes contra a ilha, perpetrados por grupos ultradireitistas, com a tolerância e/ou a cumplicidade de Washington.
Embora Salazar evite responder a pergunta sobre se os Cinco encabeçarão a futura dirigência revolucionária, fontes consultadas em Havana os indicam como potenciais protagonistas desta fase de “atualização”, já que se tratam de quadros políticos bem formados e por terem protagonizado uma façanha épica nas masmorras estadunidenses.
Há alguns anos, se dizia que todo cubano era especialista em contar histórias sobre Fidel e em falar de beisebol, o esporte nacional. Na atualidade, os cubanos sabem quem são os Cinco e muitos falam deles com um respeito que eles ganharam através de suas ações.
Pouco tempo depois de retornar a Cuba, no ano passado, Salazar e seus companheiros assistiram a um recital de Silvio Rodríguez, o maior nome da Trova Cubana – quem, em outros tempos, compartilhou alguns concertos com Chico Buarque.
Rodríguez convidou os Cinco Heróis a subir no palco para cantar com ele a canção “El Necio”, cuja letra defende os valores da Revolução apesar dos momentos difíceis e da chantagem permanente do império.
“Eles vêm me convidar a me arrepender, mas eu morro como vivi” diz um dos versos dessa canção, que durante 16 anos foi “o hino da resistência, quando estávamos no fundo do poço”, segundo contou o ex-prisioneiro Gerardo Hernández.
– O que você chama de fundo do poço?
– Quando fomos presos, no dia 12 de setembro de 1998, não nos levaram à prisão, e sim a um escritório do FBI, em Miami. Ali tivemos uma entrevista com oficiais, na qual, obviamente tentaram nos fazer trair o nosso país, o nosso comandante e a Revolução. Nos fizeram propostas para que colaborássemos. Nesses 16 anos, o governo dos Estados Unidos esteve constantemente pressionando para que colaborássemos, mas isso nunca aconteceu, porque somos fiéis à nossa pátria. Quando viram que não iríamos trair o nosso país, nos mandaram finalmente para a prisão, mas não uma prisão normal. Nos colocaram num minúsculo calabouço, onde permanecíamos por 24 horas, um lugar deplorável, sujo, úmido, um espaço de 2 por 3 metros, revestido de cimento sólido. Inventamos passatempos para suportar a prisão, jogávamos com uns dados rústicos que o Gerardo fez a partir de pedaços de pão, fizemos um xadrez com pedaços de papel. Esse calabouço foi feito para pessoas que cometem crimes dentro da prisão, quem mata outro preso, ou cria uma briga, mas nós fomos para lá somente porque éramos cubanos, sem ter cometido nenhuma infração. Nossa relação com os demais reclusos foi amigável, sempre nos trataram bem, houve respeito. Nos perguntavam sobre a Revolução, alguns inclusive mostravam simpatia para com o nosso processo, tinha gente que manifestava seu apoio. Essa simpatia se dava mais entre os negros e os latinos. Na medida em que eles descobriam que éramos agentes do Fidel, da Revolução, isso fazia com que tivessem mais respeito conosco. A maioria dos presos eram negros pobres, muitos por narcotráfico, por venda de maconha, por tráfico de cocaína, heroína. Eu ainda mantenho contato com alguns deles, alguns me ligam da prisão mesmo.
– Você pensa mais no passado vivido no calabouço, ou no futuro?
– Eu penso bastante sobre os anos na prisão, mas me preocupo mais com o futuro do meu país.
SOCIALISMO TIPICAMENTE CUBANO
– Que rumo você acha que Cuba está tomando?
– Creio que estamos no caminho correto, ao ter decidido buscar melhores relações com os Estados Unidos, deixando muito claro que, apesar desse processo, nós vamos continuar trabalhando para fortalecer o nosso socialismo. Não fazemos esta aproximação dar uma guinada ao capitalismo. Não vamos perder o que conquistamos, isso está bem claro. Obviamente as intenções dos norte-americanos não são ajudar o nosso socialismo, nada disso. Eles querem destruir o nosso socialismo. Gostaria de dizer algo importante: tem gente que pensa que os norte-americanos vão investir amanhã mesmo, quando eles quiserem, e isso não é assim. Eles virão somente através dos investimentos que sejam aprovados por Cuba, quando sejam considerados benéficos. O capitalismo não vai solucionar os nossos problemas. O capitalismo vai jogar por terra todos os avanços. Cuba viveu 62 anos de capitalismo, passou a ser uma neocolônia dos Estados Unidos em 1898, quando roubaram a independência que havíamos conseguido na luta contra a Espanha. Portanto, Cuba sabe o que é o capitalismo. Nós vivemos numa sociedade saudável, com valores solidários, sem narcotráfico, sem violência, diferente da que existe nos Estados Unidos. O estilo de vida dos norte-americanos não é o que queremos. Em Havana não há McDonald´s, mas não sei se haverá dentro de algum tempo. Isso nós veremos no futuro. Se você já conhece os sanduíches do McDonald´s precisa provar as fritangas cubanas, que são feitas de pura carne, são deliciosas. Eu comi no McDonald´s quando vivia nos Estados Unidos e garanto que prefiro a fritanga, e não digo de má vontade, porque você sabe que aqui somos muito orgulhosos da nossa pátria e da nossa comida.
– Carlos Fuentes (escritor mexicano) disse alguma vez que México reconquistará a Califórnia através das tortilhas.
– Isso é uma grande verdade… porque há muito simbolismo na comida. Sembre devemos considerar a nossa cultura, pois nós somos latinos. Lembre-se sempre que a Revolução Cubana nasceu do povo, não foi imposta de fora. Eu resumo da seguinte forma: o nosso socialismo é tipicamente cubano.
– Cuba adotará um modelo econômico similar ao vietnamita?
– Como economista, eu estudei bastante tempo o que o Vietnã fez, e não sei se vamos tomar tudo dessa experiência, mas certamente há coisas positivas. Mas também há coisas negativas. Temos que ser criativos e saber nos adaptar às nossas condições objetivas e subjetivas, respeitando a nossa idiossincrasia, porque nem sempre o adequado para a cultura asiática é adequado para a nossa gente. Por exemplo, temos que buscar investimentos estrangeiros que se fiquem no país por bastante tempo. Não podemos permitir que o grande capital se forme em nosso país, ou que as grandes corporações se estabeleçam, que se apoderem pouco a pouco do território cubano. Tampouco devemos permitir que surjam supermilionários e que existam grandes diferenças com o resto do povo.
– Como acontece na China.
– Eu não aponto nenhum país como exemplo, prefiro dizer o que queremos em Cuba. Por exemplo, nós deveríamos atrair capitais cubanos que estão fora do país, capitais cubanos que sejam bons e que não estejam envolvidos com o terrorismo contra o nosso país. A inteligência está em fazer as coisas para conseguir maior bem-estar para o nosso povo, que haja menos problemas para a população, mas buscar isso a partir do modelo econômico cubano, não do vietnamita, nem do russo, nem de nenhum outro lugar.
Tradução: Victor Farinelli
O famoso ator norte-americano Sean Penn, premiado com dois Oscar’s e conhecido por seus trabalhos humanitários no Haiti, elogiou
o diálogo entre Washington e Havana e declarou que este fato enriquecerá culturalmente os Estados Unidos.
As declarações de Penn foram divulgadas hoje nos meios políticos estadunidenses e fizeram parte de sua entrevista nesta quarta-feira à noite no programa de Conan O’Brien da rede de televisão TBS (“Conan”), onde Penn foi divulgar seu último filme, “The Gunman”.
Sean Penn, de 54 anos e em geral muito crítico das políticas conservadoras de Washington, qualificou o ainda vigente embargo comercial de “arcaico” e disse que na prática, significa na verdade um BLOQUEIO. Aproveitou para destacar as consequências positivas da Revolução Cubana como a alfabetização.
O ator declarou já ter se reunido com Fidel e Raul Castro – sobre quem não quis se pronunciar – e se referiu aos habitantes daquela ilha caribenha como um povo com um “espírito e inteligência incríveis e muito brilhantes”.
“Acredito que certamente vai acontecer uma mudança real em Cuba” afirmou Penn, que declarou que será “fascinante” também para os Estados Unidos “pelo que eles podem nos acrescentar culturalmente”, disse.
Em “Conan”, Penn também fez declarações dirigidas ao ex-presidente George W. Bush e seu braço direito, o ex-vice-presidente Dick Cheney a quem apontou como responsáveis pelo surgimento do grupo terrorista Estado Islâmico (ISIS) e se mostrou surpreso pelo fato de Cheney, de saúde fraca, todavia seguir vivo graças à “tecnologia biônica”.
Os novos diálogos acontecem em meio a um mal-estar na região, gerado pelas novas sanções do governo do presidente Barack Obama contra a Venezuela.
O terceiro encontro entre Havana e Washington transcorreu em clima profissional e os dois países concordaram em manter diálogo no futuro, informou o Ministério de Relações Exteriores de Cuba. A reunião foi “positiva” e “construtiva”, acrescentaram os EUA.
A terceira conversa entre Havana e Washington aconteceu em clima profissional e os países concordaram em manter diálogo no futuro, informou o Ministério de Relações Exteriores cubano.
Os encontros anteriores foram realizados em Havana, em janeiro, e em fevereiro em Washington. “Em 16 de março aconteceu em Havana um encontro entre delegações de Cuba e dos Estados Unidos para tratar de assuntos específicos relacionados com o processo de restabelecimento das relações diplomáticas entre ambos os países”, afirmou a Chancelaria em um breve comunicado, publicado em seu site. “A discussão de ontem [segunda-feira] foi positiva e construtiva e se manteve em ambiente de respeito mútuo”, disse o porta-voz do Departamento de Estado norte-americano em uma breve declaração divulgada para a imprensa.
“Centrou-se no restabelecimento das relações diplomáticas e na reabertura das embaixadas”, acrescentou o documento. Nenhum dos lados deu mais detalhes sobre os temas abordados.
Fontes diplomáticas norte-americanas informaram de antemão que esta terceira rodada era uma reunião de menor proporção que as duas anteriores e que Jacobson, representante máxima do Departamento de Estado norte-americano para a América Latina, viajava desta vez para Havana com uma delegação menor.
Apesar da reserva que ronda esta nova etapa de negociações, descobriu-se que Cuba e Estados Unidos retomaram a conexão aérea entre Havana e Nova York com um voo charter, que terá frequência semanal e será operado pela agência de viagens norte-americanas Cuban Travel Services (CTS), no marco da melhoria das relações diplomáticas em que os dois países tentam avançar. A linha entre as duas cidades ficou aberta na manhã de terça-feira com um avião que saiu da capital cubana rumo à Grande Maçã, em que viajaram dez pessoas em uma aeronave que chegara à ilha com procedência de Miami, informaram fontes do aeroporto internacional José Martí.
A viagem de volta, procedente do aeroporto internacional JFK, de Nova York, chegou a Havana às 18h30 do horário local, segundo as fontes. Em fevereiro, CTS informou que o voo entre Nova York e Havana seria feito em um Boeing 737-800, alugado para a companhia norte-americana Sun Country. A empresa turística informou que trabalhariam com tarifas únicas: 849 dólares para ida e volta, e 1334 dólares para a classe executiva. Esta conexão se soma a outros novos serviços charter anunciados recentemente entre Estados Unidos e a ilha, como a travessia New Orleans e Havana, retomada no sábado passado, depois de 57 anos.
Neste contexto de aproximação, Estados Unidos esperam reabrir uma embaixada em Cuba antes da Cúpula das Américas, que acontecerá no Panamá, onde em 10 e 11 de abril estarão reunidos representantes de alto nível de todos os países do continente. A inesperada aproximação entre Washington e Havana, anunciada em 17 de dezembro, gerou grandes expectativas para o encontro, pois os presidentes Barack Obama e Raúl Castro estarão cara a cara pela primeira vez em uma reunião deste tipo.
A crise venezuelana e as tensões entre os dois países poderiam prejudicar o encontro. Além de Cuba, outros países da Alba, como Bolívia e Equador, aliados de Caracas, criticaram com dureza os Estados Unidos. Mas também a União das Nações Sul-americanas (Unasul), em que países como Colômbia, Chile e Peru mantêm relações mais cordiais com Washington, pediu que Obama revogasse a ordem executiva que impõe sanções à Venezuela.
Os novos diálogos acontecem em meio a um mal-estar na região, gerado pelas novas sanções do governo do presidente Barack Obama contra a Venezuela. O presidente norte-americano qualificou recentemente o contexto pelo qual o país caribenho passa como uma ameaça para a segurança nacional de seu país.
Apesar da aproximação com os Estados Unidos, Cuba criticou nos últimos dias com dureza o que considera uma agressão de Washington contra Caracas. “Não se pode tratar Cuba com uma cenoura e a Venezuela com um cassetete”, protestou o ministro de Relações Exteriores cubano, Bruno Rodriguez. Os países que integram o bloco da Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América (Alba), próximo ao chavismo, realizaram em Caracas uma cúpula extraordinária para estabelecer uma posição comum diante das ameaças norte-americanas, segundo a imprensa cubana. O ex-presidente Fidel Castro publicou uma carta que elogiava, entre outras coisas, a disciplina e o espírito das forças militares venezuelanas. Trata-se da segunda moção de apoio que Fidel envia a Maduro depois das sanções norte-americanas.
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Por Mariano Álvarez
A pocos días de celebrarse en Panamá la VII Cumbre de las Américas, donde se espera con ansiedad la presencia de los presidentes de Cuba y Estados Unidos- por ese solo hecho se recordará como un evento histórico- se incrementan en Miami las pugnas entre los partidarios de la nueva política del ejecutivo norteamericano con relación a Cuba y aquellos que se oponen bajo los mismos argumentos de la vieja política, probadamente fracasada.
Ha trascendido, aunque no expandido, que el Departamento de Estado está preparando y financiando a un grupo bien seleccionado de supuestos opositores internos, varios de ellos ya de gira por países de América Latina y Europa, que según sus criterios, representarían en los Foros de la Cumbre que organiza la OEA, la verdadera Sociedad Civil Cubana, en detrimento de aquellos legítimos representantes de organizaciones sociales, de masas y asociaciones reconocidas legalmente en Cuba.
Sin embargo, para varias organizaciones de cubanos radicadas en la Florida- pertenecientes a la Asamblea de la Resistencia-, ninguna de esas delegaciones constituye la Sociedad Civil Cubana; una por responder a los designios del Gobierno norteamericano y la otra por estar alineada a los intereses del Gobierno cubano.
En sintonía con esas consideraciones y enaltecidas por congresistas y senadores anticubanos, las organizaciones agrupadas en la Asamblea de la Resistencia, entre ellas, el Directorio Democrático Cubano, Mar por Cuba, Junta Patriótica, Brigada 2506, Alpha 66, Consejo por la Libertad de Cuba, Grupos de Ex Presos, 30 de Noviembre, Cuba Independiente y Democrática, Movimiento Democracia y figuras aislada como Luis Enrique y Darsi Ferrer – no son hermanos-, se afanan por intentar llegar a Panamá, conscientes que hay un antes y un después.
Y es que las que no estén allí, poco podrán influir en el futuro de Cuba. No es que no vayan a recibir financiamiento, pues todo hace indicar que recibirán algo para que participen en algunas escaramuzas a conveniencia. Pero no serán tenidas en cuenta para un protagonismo significativo. Se han percatado que la balanza se está inclinando hacia actores nuevos y no tan nuevos, pero que transitan aceleradamente en el nuevo escenario, ante el agotamiento de los que ya no tienen nada nuevo que exhibir como no sea romper discos en la calle 8, ya sea con aplanadora o armando griterias.
En tanto eso, pretenden llevar a Panamá a otro grupo de “delegados”, tanto radicados en la isla como en la diáspora, a los que consideran sus legítimos representantes y del pueblo cubano de a pie. Hacerse presentes y visibles es vital para el futuro por lo planean otros eventos interno, coincidentes con el de Panamá, para lo cual han convocando a sus diezmados seguidores.
Y esto es otro tema de controversia, pues un grupo quiere que los escasos fondos de que disponen se pongan en función de los opositores internos, pero otros no se quieren perder la fiesta panameña, tal es el caso Janisset Rivero, del DDC y Silvia Iriondo de MAR por Cuba, cuya organización e integrantes por su vestuario y el telón propagandístico que usan en sus actividades pueden ser confundidas como miembros del grupo terrorista ISI.
Miembros de estos grupos comentan que los escogidos por la Casa Blanca –en su mayoría opositores internos- y particularmente los más favorecidos (Manuel Cuesta Morúa, Juan Antonio Madrazo Luna, Kirenia Núñez, Laritza Diversent, Dagoberto Valdés, Rosa María Payá…) son individuos de élite, que aprovecharán la ocasión para lucirse, obtener protagonismo y los recursos logísticos y financieros que antes les daban las instituciones federales y privadas norteamericanas a las organizaciones en el exterior, con el fin de lograr la “transición democrática de Cuba”.
Según fuentes bien informadas, en lo que sí tienen razón es que en el caso cubano la OEA seleccionó la “delegación” que escogió Estados Unidos para representar a Cuba sin tomar en cuenta a la Asamblea de la Resistencia, es decir, que sus seguidores internos como Antunez, Berta Soler, Martha Beatriz Roque, entre otros, no fueron aceptados como participantes en los Foros de la “Sociedad Civil y Actores Sociales”, y el de “Jóvenes”.
Lo de la Soler no tiene precedentes y hay bastante rechazo por ella tanto en Washington como en Miami. Ella se creyó en serio que era la Líder y que podía hacer plantones a los norteamericanos (a la Jacobson por ejemplo). Lo cierto es que aún subsiste porque han empleado mucho dinero y con compromiso contraído no se puede desmontar en dos minutos, pero de que tiene sus días contados…..
Por ello, es que la Asamblea de la Resistencia llevará un grupo a Panamá por su cuenta a manifestarse contra los gobiernos de Cuba y Estados Unidos, en un denominado “el Foro Paralelo de los cubanos”. Sin embargo, no están conscientes que a lo mejor ni tan siquiera pueden salir del aeropuerto, pues con la magnitud del aparato de seguridad que se mueve con los presidentes Barack Obama y Raúl Castro, la ciudad quedará prácticamente paralizada. O simplemente se harán invisibles.
Obvio que la gran prensa estará centrada especialmente en las figuras de ambos mandatarios, sus actividades y movimientos; por lo que difícilmente se ocupará de cubrir un evento paralelo como el que planifican.
Ante la situación actual, ya aparecen sus propios disidentes –de la Asamblea- que sostienen que el “exilio político histórico” en su conjunto es poco atractivo y tendrán que ser muy creativos de lo contrario van a perecer, pues no pueden competir con el proyecto del Gobierno Norteamericano de crear una “sociedad civil cubana independiente” a su manera.
El punto crítico- como siempre- es el dinero que circula hoy por una ruta diferente a la suya.
Para competir con el proyecto del gobierno norteamericano de crear una Sociedad Civil agrupada en la” Plataforma de Integración Cubana”, algunos de los miembros de la Asamblea de la Resistencia están convocando al “Acuerdo por la Democracia en Cuba”, del cual nunca formaron parte. Un engendro de hace casi 20 años de antigüedad, que se firmó en la ciudad de Lubin, Polonia en 1998 y que luego trataron de darle nueva vida en el 2007, sin resultados notables. Algunos líderes del exilio tienen una visión más realista y lo llaman “Acuerdo por la Demagogia en Cuba”, considerando que solo se volverán promesas y ahí quedará todo.
La Asamblea de la Resistencia gestiona, desesperadamente, el financiamiento para este viaje a Panamá, a través de la Freedom House, el Instituto Republicano Internacional, la Fundación Valladares, el Consejo por la Libertad de Cuba (CLC), la Fundación para los Derechos Humanos, el Partido Popular Español (PP), y el empresario de origen cubano Leopoldo Fernández Pujals, Elena Larrinaga De Luis directiva de la Federación Española de Asociaciones Cubanas (FECU) y la Democracia Cristiana chilena.
Es un “charquero” a lo cubano, en el que unos tiran para un lado y otros tiran para otros y el denominador común es que cada uno hala para si. Esa dinámica no cambió.
El gallinero está alborotado, porque decirle escenario le da una altura conceptual y académica que no le pega. Solo hay que explorar por Internet para conocer las luchas intestinas que libran y no es exactamente por métodos de lucha; es sobre todo, por protagonismo y financiamiento.
Su existencia se debe al dinero que reciben desde diversas instituciones del Gobierno norteamericano, de sus aliados en terceros países, y de organizaciones vinculadas a acciones terroristas contra su propio país.
Y entonces, cuando de tales dimes y diretes se trata; Berta se quita la chancleta y dice que ella es la que manda porque sí, que la que no vote por ella no cobra, y que hay que pasar por encima de su cadáver; y si Antunez se quita el sellito con la bandera norteamericana; y si la otra salió embarazada y tuvo que regresar a Cuba; y si el otro fue a entrenar y decidió vivir en Miami; y si otra engañó al marido. Pero de todo esto no se habla, porque Miami ni acepta tarros ni pugnas internas. En fin, de que Sociedad Civil Independiente del pueblo cubano están hablando?
Reportagem da Agência Brasil
Sorridente, de camisa quadriculada, Abdelhadi Faraj poderia se passar por turista, em férias no Uruguai. No computador da antiga casa de Montevidéu, ele mostra as fotos da viagem à cidade histórica de Colônia, a convite de um empresário local. O sírio, de 34 anos, aparece junto com seus companheiros em uma fazenda, na piscina, compartilhando um churrasco e sobrevoando, em um jatinho particular, o país que o acolheu. Nem parece que Abdelhadi vive em liberdade há apenas três meses, depois de passar um terço da vida em Guantánamo – a prisão militar norte-americana em Cuba, para onde foram levados centenas de suspeitos de terrorismo, depois do ataque de 11 de setembro de 2001 às torres do World Trade Center, em Nova York.
Detido em 2002, enquanto tentava cruzar a fronteira do Afeganistão com o Paquistão, ele poderia ter saído de Guantánamo em 2009, quando o governo americano – apos reexaminar seu processo – determinou a transferência. “No entanto, permaneci outros cinco anos nessa prisão, desesperado ao ver que meu próprio país – a Síria – mergulhava em uma sangrenta guerra civil, tornando a minha repatriação impossível”, conta Abdelhadi, em carta de agradecimento que publicou no jornal El Pais, assim que desembarcou em Montevidéu em dezembro. “Se não fosse pelo Uruguai, eu ainda estaria naquele buraco negro.”
Abdelhadi é um dos seis prisioneiros de Guantánamo, libertados pelos Estados Unidos e acolhidos pelo governo uruguaio como refugiados. “Nem consigo acreditar que estou aqui”, disse, em entrevista à Agência Brasil. Três meses em liberdade foram o suficiente para que ele se atualizasse: abriu conta no Facebook, aprendeu a dirigir com um amigo e instalou no computador um programa gratuito para aprender espanhol. Ele quer trabalhar como açougueiro – profissão que exercia antes de ser preso. Mas a inserção na sociedade leva tempo – especialmente em um país estranho, longe da família.
“Eu sei cortar a carne de acordo com o rito muçulmano, que é diferente do jeito que fazem aqui”, explica Abdelhadi. “E ainda não me recuperei do tempo que passei em Guantánamo: tenho dor de estômago, asma e me sinto cansado”, diz.
Nesta semana e na outra, os seis ex-prisioneiros – quatro sírios, um tunisiano e um palestino – serão examinados no Hospital Militar (o mesmo para onde foram levados assim que chegaram a Montevidéu). O próximo passo será reacomodá-los: até agora, o grupo estava sendo acompanhado pela central sindical uruguaia PIT-CNT, que emprestou um antigo casarão para alojá-los. Mas o espaço era pequeno e dois deles foram levados a um hotel, até que o Serviço Ecumênico para a Dignidade Humana (Sedhu) – uma organização dedicada a refugiados – assuma o caso deles e encontre um apartamento para cada um.
O sírio Jihad Diyab tem outras preocupações, além da saúde e de sua instalação no país. É o único do grupo que é casado. Um de seus filhos morreu há pouco mais de um ano, quando ele ainda estava em Guantánamo. Os outros três e a mulher fugiram da guerra na Síria para a Turquia, mas acabam de ser devolvidos a seu país e, segundo Diyab, correm risco de morrer. Ele pediu permissão para trazê-los ao Uruguai, mas ainda espera a resposta da Cruz Vermelha e a resolução de trâmites internacionais.
No mês passado, Diyab viajou de improviso a Buenos Aires, onde vestiu o uniforme laranja dos prisioneiros de Guantánamo para falar a um pequeno grupo de jornalistas de meios alternativos argentinos. Ele contou que foi torturado, que fez greve de fome e que processou o governo norte-americano, depois que os carcereiros enfiaram um tubo no seu nariz para alimentá-lo à força. Diyab (cuja mãe é argentina) pediu a Argentina que siga o exemplo do Uruguai e se ofereça para acolher os prisioneiros que continuam em Guantánamo – apesar da promessa de campanha do presidente dos Estados Unidos, Barak Obama, de que iria fechar a prisão em Cuba.
Tanto Diyab quanto o tunisiano Abdul Ourgi consideram que – apesar das boas intenções – a situação dos prisioneiros em Guantánamo é pior com Obama do que com seu antecessor, George Bush. “Antes, estavam começando a libertar muitos de uma só vez, mas com Obama estão liberando prisioneiros a conta-gotas”, disse Ourgi, durante a entrevista à Agência Brasil.
De todos os ex-prisioneiros no Uruguai, Ourgi seria o mais perigoso, na avaliação do Departamento de Defesa dos Estados Unidos. Ele é citado como um “expert em explosivos”, que teria conhecido Osama Bin Laden e recebido, com antecedência, informações sobre seus planos para atacar as torres do World Trade Center. Ourgi sorri quando vê o documento: diz que perdeu um pedaço do polegar e tem cicatrizes no corpo, porque estava nas montanha afegãs, bombardeadas pelos norte-americanos, que queriam destruir o quartel-general do grupo terrorista Al Qaeda. “Mas o resto do que contam não é verdade”, garante. “A prova é que o próprio [ex-presidente do Uruguai] Jose Pepe Mujica contou que recebeu um documento do governo dos Estados Unidos, assegurando que nenhum dos ex-prisioneiros no Uruguai é terrorista ou representa ameaça.”
Mujica fez uma visita de surpresa à casa do PIT-CNT, poucas semanas antes de concluir seu mandato presidencial, no dia 1º de março. “Ele nos contou que foi guerrilheiro tupamaro, que esteve preso 13 anos e que passou dez deles isolado em um poço”, conta Ourgi. O tunisiano, de 49 anos, assistiu pela televisão à cerimônia de posse do sucessor de Mujica, Tabaré Vázquez.”
Ourgui esteve no Brasil por algumas horas. Foi durante uma recente excursão a Chuí, uma cidade uruguaia na fronteira. “Cruzamos a rua para o Brasil, mas não fomos longe – ainda assim deu para perceber que [a vida no] Brasil é mais barata que no Uruguai”, disse.
Ter como se sustentar é o que preocupa Ourgi agora. “Durante 13 anos, eu só pensava em sair de Guantánamo – agora, tenho que me preocupar com a comida, a roupa, as contas, em um país caro”. Ele gostaria de trabalhar de cozinheiro – e quem sabe, no futuro, abrir um restaurante árabe. “Mas não é tão fácil quanto parece – 90 dias são pouco tempo para se acostumar à liberdade, se recuperar de Guantánamo e buscar emprego”, disse. “Mas não podemos ficar sem trabalhar, porque recebemos 15 mil pesos uruguaios [R$ 1,7 mil], o que é pouco em relação ao custo de vida uruguaio”, disse. Se tudo der certo, Ourgi quer trazer ao Uruguai a mãe – que não vê há 25 anos.